segunda-feira, 14 de novembro de 2011

CAPÍTULO VII – A alternativa mais radical

A abordagem de um novo rumor mal disfarçado – que me parecia especialmente temerária por decorrer num território só efabulatório e pouco cartografado (a bem dizer nada cartografado, pois trata-se de considerando post-mortem) –, acabou por se simplificar repentinamente quando me apercebi de que todos os boatos sobre uma suposta homossexualidade do escritor se resumiam, no que lhes era nuclear, à extrapolação velada que João Gaspar Simões produziu no capítulo VII (‘Plenitude’) da sua monumental biografia crítica (ou ficção psicológica datada) sobre Eça.

Tudo nascia ali e ali morria, exibindo uma grande incapacidade de se sustentar como argumento.
A revelação deste facto ficou a dever-se em boa parte ao acaso, que sempre me tem protegido neste animado e por vezes escorregadio périplo.
Mas torna-se aqui necessário fazer uns parênteses, em tudo semelhantes aos que fiz a respeito das divergências sobre a filiação de Eça: se tal hipótese fosse minimamente aceitável – porque apoiada em alegados comportamentos ou, pelo menos, em vagos testemunhos –, só me restaria então encarar tal possibilidade, reflectindo talvez ainda mais maduramente sobre coisas tão diferentes como o são os estranhos caminhos que a vida toma e o indiscutível apreço e amizade verdadeira que nutro por alguns homossexuais assumidos.
Dado que actualmente poucas ou nenhumas dúvidas se me colocam sobre tal assunto, sobra a madura reflexão anteriormente proposta na segunda alínea agendada.
De qualquer forma, também essa reflexão já se deu – e há muito.
Quero com isto dizer que não me move qualquer sentimento de homofobia, mas tão-somente uma grande raiva para com aqueles que pretendem forçar tal nota apenas com o intuito de mostrar a sua própria e soberba sagacidade – independentemente da bondade dos métodos ou da firmeza dos juízos utilizados para chegarem a semelhante conclusão.
Trata-se de gente a quem não interessa especialmente a obra do escritor, mas antes este enquanto objecto de esbulho fácil. Possivelmente crêem estes ‘detectives do passado’ que, procedendo a tão barulhentas exumações, lhes sobrará sempre no meio do cotão das bolsas alguma da poalha das estrelas que se supõe ter impregnado o ambiente em que os seus ‘investigados’ um dia se movimentaram.
O que é um péssimo motivo.
Curiosamente, cheguei à evidência dos factos por via do paupérrimo comentário à propos que Maria Filomena Mónica (MFM) produziu na sua análise aos escritos de Eça sobre o Egipto (in Eça de Queirós, edição Quetzal).
Aconteceu que o meu amigo e confrade Joaquim António Gonçalves Guimarães disse-me um dia – durante uma reunião da Confraria Queirosiana, como sempre realizada na Casa de Cultura de Gaia/Solar Condes de Resende, de que é curador – que o tal comentário de MFM seria completamente despiciendo quando comparado ao que o professor e escritor José Rentes de Carvalho (JRC) sabia sobre o tema.
Conhecendo já muito bem o pouco (ou melhor: o nada) que Filomena Mónica lograra garimpar sobre o assunto – e mesmo assim entendeu ser suficientemente válido para integrar o seu livro sobre o escritor –, resolvi contactar o citado professor, pedindo-lhe informação concreta.
A resposta rápida veio pelo correio, remetida da Holanda (onde JRC vive e trabalha), e na forma de dossier completo copiado directamente da sua matriz informática.
Afinal tratava-se simplesmente dum comentário que o próprio Rentes de Carvalho produzira num texto em que apresentava Eça, sob a forma de introdução à recente edição da obra do romancista português na Holanda.
Em dado ponto da sua muito completa apresentação – onde Gaspar Simões é sobejamente citado na condição de «maior biógrafo de Eça» –, Rentes de Carvalho positivamente exulta ao declarar «a homossexualidade de Eça!» (com ponto de exclamação e tudo).
Releio para trás, avanço bem para a frente, e... só há referências ao livro de JGS. 

Do romance flop
à biografia ficcional

E que referências! Veja-se na última página da terceira parte (Os Maias, capítulo VII):
«De facto, Eça de Queirós, que (...) salvara das ruínas da sua vida emocional alguém condenado desde a infância a uma perversão dos sentidos só saciável na vida sensual, e numa vida sensual condenada pela sociedade, pudera tomar à conta de romantismo aquela profunda verdade proferida pelo seu amigo Ega». Ou seja: o que dá «sabor e relevo à vida» é a paixão. E é numa difusa e desequilibrada simbiose entre Ega e Carlos da Maia, criada a partir de um Eça retintamente seu, que JGS fundamenta a sua sentença minimalista sobre o todo do escritor:
«Eis como Os Maias, muito mais que um romance de crítica social, são como que um inventário de toda uma vida, de toda uma acção».
Trata-se, diz o ensaísta, de «um juízo sobre a sua própria existência de homem e de escritor. Como homem, julgou-se nela um romântico, porque a única coisa que nele era paixão – o amor sensual anómalo – a razão não lho consentia; como crítico de costumes e agente civilizador, condenou-se a si mesmo, em vista da degenerescência da civilização que ele apontara como salvadora aos portugueses...».
Comecemos pelo fim, que é um ponto tão bom como outro qualquer para começar. 
Então Eça apontou a «degenerescência da civilização» como a salvação dos portugueses? N’ Os Maias, n’ O Crime, em Basílio, a degenerescência civilizacional salva alguma coisa ou alguém? Estranha conclusão esta.
Porque me parece bem mais razoável ter Eça reparado no atraso continuado e persistente do país, e ter daí concluído uma inevitável e concomitante resultante: se o desenvolvimento e a civilização demoravam a chegar a Portugal, então também as muitas chagas que lhes estão associadas (que ele já muito bem conhecia) só atingiriam o país mais tarde e com resultados práticos mais suavizados.
O que – relativizando os acontecimentos aos tempos de globalização que agora correm – continuou a suceder desta forma até há bem pouco tempo.
Mas mais curiosa é a certeza simonesca de que Eça estava condenado à nascença a «uma perversão dos sentidos só saciável na vida sensual» – e, inevitavelmente, numa vida sensual «condenável pela sociedade», numa «sensualidade anómala» que a razão nunca lhe permitiria pôr em prática!...
Com isto fica-se a saber de uma vez por todas – e afinal à boa maneira de muito amante da psicologia para principiantes – que qualquer ser humano com atribulações de índole maternal (sejam de que natureza forem) está irremediavelmente condenado a uma sensualidade anómala (o mesmo que sexualidade socialmente condenável - conceito que naqueles tempos inscrevia exclusivamente a homossexualidade).
Ao pobre Édipo não bastará portanto mutilar-se, furar os olhos: é obrigado também a ser homossexual – sem possibilidade de excepção ou escolha! 
E é isto o que Gaspar Simões afirma.
desenho de Pedro Pimentel
Depois, seguindo tão arrasadora lógica – e dando-se o possível caso de haver sérios pruridos pessoais por parte deste predestinado da sociedade e da Natureza (e mais ainda de JGS!) –, o dito homossexual em potência esconder-se-á sine die no respectivo armário, vingando-se em seguida do destino com autêntico instinto predatório sobre tudo o que represente o elo afectivo e sexual mais corrente: a mulher!
Haja pois uma saia no horizonte e lá estará um homossexual encapotado (ou muitos mais) a exercitar sedução em catadupas e – horror dos horrores! – consumando conquistas...
Daqui à justificação para as múltiplas namoradas e amantes de Eça – «que gostava de espanholas», como muito bem se lembra o ensaísta (e porque obviamente o Cruges lho soprou ao ouvido!) – vai um passo muito curto.
Está tudo explicado: Eça apreciava sexualmente as mulheres porque – lá bem no fundo – era homossexual! Mais ainda: o psicografado de JGS alardeava o seu gosto por mulheres apenas para não ser mal visto socialmente...(1)
Haverá maior estreiteza de horizontes? Ou será que o ensaísta apenas afirma subliminarmente que todos somos um pouco homossexuais – com ele fatalmente incluído?
Mas estas são dúvidas que já não é possível averiguar – pelas razões mais óbvias.
Neste contexto não deixa de ser interessante a história pessoal de Gaspar Simões.
Foi um literato com vários interesses e apaixonou-se irremediavelmente pelas doutrinas de Freud, que ao tempo (anos 40) faziam grande furor. A tal ponto isso foi assim que JGS abalançou-se por fim a escrever aquele que, por breves momentos, foi apresentado como o primeiro romance psicológico português. Passe a ridícula presunção (é caso para perguntar se a obra de Eça não tem nada de psicológico), Elói – ou Romance numa cabeça foi um fracasso: não vingou.
Aconteceu ao romance de JGS aquilo que dá hoje substância ao neologismo flop.
Só depois disso o ensaísta se aventura nas suas biografias críticas, dotando-as de várias premissas psicológicas – que ali funcionam como alicerces e verdades únicas (onde é que já li isto?...) – sorvidas directamente dos generosos úberes cerebrais do Dr. Sigmund. O qual anos mais tarde acabaria por renegar muitas das suas teorias e generalizações, incluindo as que o ensaísta e escritor falhado utilizou para sustentar a incontornável (ainda que indetectável) homossexualidade de Eça.
À época da primeira edição de Vida e Obra de Eça de Queirós, o poeta Fernando Pessoa já morrera – não sem antes considerar publicamente as ilações psicanalíticas de JGS pejadas de conclusões arriscadas e generalizações perigosas. Pessoa foi psicografado em vida por Gaspar Simões, e em vida cilindrou o seu auto-proclamado analista de forma muito concreta.
Judicioso, o ensaísta Simões aguardou então as comemorações do nascimento de alguém que já morrera (sem margem para dúvidas!) para lhe dedicar robusto e monumental tomo pontuado com afirmações da mais pura selvajaria freudiana – que ali assume foros de ciência exacta. Mas destas Eça não se poderia defender, pelo simples facto de estar morto há cerca de 45 anos.
Isso foi óptimo para JGS.
É fácil remeter ao emissor a natureza desta espécie de vingança privada sobre o sucesso inalterado de Eça. Porque é notoriamente disso que se trata. Se assim não fosse qual a razão para todo um alarido entusiasta pela suposta «tunda» dum Machado de Assis a propósito d’O Primo Basílio – onde o ensaísta visivelmente se trai, tal é o público júbilo com que a acolhe?
Consciente ou não disso, JGS quis denegrir Eça, apesar de proclamar aos quatro ventos que o adorava. Quis que o brilho do romancista ficasse um pouco enfarruscado em sítios precisos, onde a dúvida se pudesse instalar eficazmente para se metamorfosear, com o devido tempo, em verdade praticamente universal (e dêem-se agora uns quantos vivas ao mais in dos paradigmas publicistas). 
Quis entrar na História, à força.
Daí o cínico ímpeto das suas certezas sobre a «sensualidade anómala» de Eça, pois, a um século de distância, JGS conhecia perfeitamente todas as aventuras amorosas do escritor – de trás para a frente e vice-versa. Estranhamente, esqueceu-se de Anna Conover e de Mollie Bidwell, por exemplo... Como se esqueceu também de ter o trabalho de levar em conta, para a obra em causa, a correspondência íntima do escritor – o que numa biografia que pretende ser monumento denuncia uma perigosa fragilidade de referências.
Toda a jactante segurança do ensaísta – ancorada certamente no facto de o visado não o poder contradizer – encaixa muito bem na moral cediça das críticas de Assis: em O Primo Basílio Eça só escreveu sobre o feio, o desagradável, o amoral e tudo o que é deplorável – afirmara então o escritor brasileiro.
Tal crítica não é só uma redução absurda da obra em si: é também reveladora de uma grande falta de visão de conjunto do significado do Realismo e do pensamento naturalista – o que se identifica nuclearmente com as reacções da velha guarda intelectual portuguesa, ainda muito ligada ao modelo já esgotado do Romantismo (ou romanticismo, como lhe chamava Eça).
No extremo oposto, o consagrado crítico literário Harold Bloom afirmaria anos mais tarde que Flaubert teria certamente dado qualquer coisa de muito caro para ter escrito umas quantas páginas desta obra.
Tamanha discrepância de opiniões resulta, no entanto, duma fórmula muito simples: porque enquanto o crítico norte-americano analisou Eça e a sua obra com a necessária distância e desinteresse pessoal, já Machado de Assis mostrou apenas as manchas verdes que indiciam o óxido do despeito, que é primo direito da inveja – um produto altamente tóxico mesmo para quem o manipula com os cuidados naturais duma experiência continuada(2).
Depois, Gaspar Simões apanhou do cadinho brasileiro umas quantas raspas e agrediu Eça intencionalmente – para seu exclusivo lucro e muito provável gozo pessoal. E fê-lo através da tal obra monumental que, na minha nada modesta opinião, apenas tem de válidas as datas que ali surgem e correspondentes certos episódios documentados da vida do escritor.
Porque considerar que Carlos da Maia é o escritor escondido em autobiografia implícita, e também não querer perceber que Os Maias são como que um epitáfio ao Romantismo, são provas suficientes, para mim, de que o ensaísta utilizou Eça especialmente para falar de si próprio. 
Talvez mesmo sem disso se aperceber.
Assim só me resta lamentar a impossibilidade prática de averiguar qual a percentagem de incidências auto-biográficas JGS integrou neste seu extenso livro – porque isso aconteceu.
Mas há uma sua frase que lhe trai pelo menos a paternidade das ideias: «(...) A única coisa que nele era paixão – o amor sensual anómalo (...). A única paixão que JGS identifica numa personalidade com a dimensão de Eça é meramente carnal – embora clinicamente anormal. Porque, para ele, tudo se resume à libido.
Logo a arte, as ideias, o crime, o poder, a criatividade, a aeronáutica, o bem, a astrofísica, a filosofia, o xadrez, a política, a Natureza, o futebol, os automóveis e a matemática nunca poderão suscitar paixões...
Freud não conseguiria errar com maior fragor.

  1. Não deixa de ser divertido saber que JGS ficou conhecido por se gabar publicamente de conquistas no universo feminino
  2. Mais tarde o grande escritor brasileiro mergulharia ele próprio nas correntes do Realismo, onde também obteve notável sucesso 

desenho de Pedro Pimentel
O patusco silogismo
da cadeira e da girafa

Toda a minha investigação sobre mais este clone de Eça – o homossexual escondido, neste caso –, sugeriu-me mais tarde o estranhíssimo silogismo condicional da girafa e da cadeira. 
Porque foi aí, nesse antro de patranha, que Maria Filomena Mónica (MFM) escondeu a sua brocazinha particular quando desatou a escrever sobre o escritor. Não me espantaria muito que o seu recurso aos confessados devaneios de Flaubert nesta particular matéria mais não tenha sido uma forma elementar de aproveitar a afirmação velada que Gaspar Simões produzira cerca de 60 anos antes: é que seria um grande desperdício de sumo, especialmente num trabalho que não acrescenta nada em particular ao que já se sabe sobre o mestre do realismo português.
Senão veja-se isto: é bem natural que a maioria dos leitores de Eça não saiba que ele era fisicamente parecido com a sua mãe – a comprovação de um elo familiar contestado por alguns.
Esta poderá ser uma curiosidade interessante para várias pessoas – ou apenas uma aborrecida coincidência para quem prefere pensar que Carolina Augusta Pereira d’Eça de Queiroz não foi realmente a mãe do escritor. Mas para quem conhece as várias fotografias existentes de ambos, tal semelhança é somente uma evidência.
Ora esta é a grande novidade presente no livro de MFM: Eça era parecido fisicamente com a sua mãe!...
Entretanto, torna-se obrigatório lembrar (especialmente a quem não leu a obra da historiadora/socióloga) que Filomena Mónica declarou não ter aprofundado as complicações e implicações da natalidade de Eça dado ser este um tema que notoriamente desagradaria ao próprio. E no entanto equacionar tais causalidades, em função do escritor dentro da sua obra, seria algo de muito mais legítimo do que levantar uma certa dúvida conclusiva patente no tal silogismo pateta que atrás anunciei.
E qual é ele?
É bem simples: uma girafa tem quatro pernas e uma parte do corpo mais alta do que a outra; uma cadeira tem quatro pernas e uma parte do corpo mais alta do que a outra; logo – em determinadas circunstâncias! –, uma girafa pode perfeitamente ser uma cadeira...
Os factos falam por si. Na página 63 do seu livro sobre o escritor, MFM lança uma nota de rodapé no final da seguinte frase:
«Que se passou, nos banhos turcos, para que Eça repentinamente começasse a escrever com tal sensualidade?». 
E na nota de rodapé aparece escrito o seguinte:
«Flaubert é muito mais explícito sobre o que lhe aconteceu quando foi a um banho turco. Numa carta a um amigo, forneceu pormenores sobre a masturbação e a sodomia, que, a terem tido lugar, Eça não quis registar. Ver carta de Flaubert a Louis Bouillet, escrita do Cairo (...)».
Ou seja: ainda que noutra pessoa, há precedentes!... Ambos são escritores, ambos estiveram na mesma cidade do Oriente Médio e ambos foram aos banhos turcos...
Tanta coincidência cheira definitivamente a esturro!
Eis, pois, o silogismo da cadeira e da girafa – aqui equacionado em todo o seu resplendor pindérico de revista cor-de-rosa.
Ou não será antes que Flaubert só é «muito mais explícito» porque lhe aconteceu efectivamente qualquer coisa num banho turco que não apenas o banho propriamente dito? – e que Eça não o é principalmente pela razão inversa?!...
Filomena Mónica tenta estribar esta sua dúvida conclusiva numa «súbita sensualidade» que descobre na escrita de Eça – como se lhe tivesse sido alterada toda a forma num repente, em erótico tumulto, a partir daquele célebre banho, partilhado com o amigo de sempre e irmão da sua futura mulher, e descrito com ironia magistral em O Egipto
Então e as Prosas Bárbaras, e As Farpas? – não exibem também uma escrita sensual? E será que aquele texto específico foi escrito imediatamente a seguir ao banho, com Eça a pingar, de lápis na mão e toalha a fazer de turbante, ainda afogueado pelos estranhos momentos que então vivera e apenas abandonara para tirar umas quantas notas impressivas e necessariamente imediatas?!?...
Será assim que a historiadora/colunista escreve?...
Toda a escrita de Eça é sensual – a ironia é em si uma forma de expressão sensual. E toda a básica especulação desenvolvida por MFM nesta matéria não passa de hermenêutica de estagiária jovem em jornal tablóide.
Mas há uma desculpa razoável para tanta tacanhez: no mesmo volume onde insere esta sua ridícula teoria, a autora considera A Cidade e as Serras uma obra espúria (talvez a reboque do monumental Simões, que já antes o declarara de forma desassombrada), um livro a mais no conjunto dos que Eça escreveu. 
Ora quem pensa assim tem certamente direito a um enorme desconto.
Se no caso de Gaspar Simões e Bessa-Luis se vislumbram os fios duma agressão amparada na inveja, já em Filomena Mónica o que transparece é um oportunismo barato associado a moralismo sonso.
Veja-se isto: MFM achou um dia que a Eça desagradaria que se falasse (agora) da sua ascendência – razão por si invocada para não tocar no assunto.
O que pensar então dos fantasmagóricos sentimentos do escritor – que Mónica jura venerar – face às filoménicas propostas dumas quantas tropelias homossexuais, mais o amigo conde e uma cambada de núbios musculados e cheios de truques? Isto já não exige qualquer recato ético ou pudor retroactivo de admiradora por parte da ex-estudante de Oxford?... O mesmo tipo de respeito antes invocado, afinal!?
Muito curioso – sem dúvida.
Para encerrar de vez toda esta falsa polémica – que seria mais compreensível se os seus mentores fizessem parte dum aguerrido grupo defensor da pluri-sexualildade como único meio de atingir a arte e a sensibilidade (um nome sonante sempre daria uma ajudinha...) –, resta lembrar a Maria Filomena Mónica que o seu recente de profundis sobre o «snobismo intelectual», de que confessa ter sofrido em tempos que já lá iam (revista Pública, de 26-02-2006), não chega para lavar dos seus textos sobre Eça toda uma medonha nódoa de... petulância mental.

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